terça-feira, novembro 23

Bom, era 15 de julho, e ela costumava sair de casa nesses dias de chuva. Mas hoje não, hoje ela queria ficar em casa, reler as cartas, ver as pessoas pela janela e ouvir uma canção. Ela sabia que mesmo que fosse para as praças e ruas, talvez não o encontrasse mais. O que queria mesmo era deslembrar. Pois se conhecia, e sabia que criava expectativas demais, sonhos demais. E errava demais. Quem sabe por que quando criança não recebi a atenção e o afeto necessário para descrever todas as possibilidades de desenvolver uma pessoa que fosse feliz. É impossível viver só sorrindo, sim. Mas nos momentos em que a felicidade chega, nem eu mesma consigo aproveitá-la. Tristeza bateu cedo em minha porta, e veio com força, nem pediu pra entrar, quebrou as fechaduras, e não tive uma proteção que me dissesse que naquele exato momento isso iria acontecer comigo. Talvez, meus pais soubessem que eu deveria aprender e crescer sozinha. Eu tinha 5,0% do amor dos meus pais. Ou melhor, de minha mãe. Pois, grana e vida alheia sempre ocuparam mais a mente de pessoas da minha família. Eu costumava ser daquelas, de guardar rancor, de não dizer, de preferir sentir a expressar. De saber, o momento exato para ser educada, e o momento exato para surtar. Dias após dias, eu conseguia dormir, ouvindo barulhos de chuvas no telhado, parecia mesmo com aqueles dias tristes, que eu costumava fazer um barulho enorme dentro de mim. Isso mesmo, dentro de mim. Por fora, eram só rastros, olhos inchados e um silêncio terrível. Não costumava ter amiguinhas, não mais. Pois todas elas da mesma forma que chegavam, iriam embora. Todas elas me causavam ciúme, me mostrando que eu era bem menor do que pensava que seria. Então, resolvi ficar na minha, quem quiser ser meu amigo, vai ter um amigo, mas não tão fácil. Pois tudo que vem fácil, vai fácil também. Como certa vez alguém dizia
-- Eu quero estar contigo, em todos os momentos, vou secar todas suas lágrimas, vou te ajudar a ser uma pessoa melhor. Eu só dizia – Ok. Pois sabia, essa promessa nunca iria ser cumprida, até então estava certa.
Mas o que me doía, agora, era um passado próximo.” Porque ás vezes costumava muito falar de coisas que me faziam mal, mas eu queria viver agora como alguém que chegou de viajem e ainda está disposta para mostrar as fotos, para contar como foi. Então resolvi falar de amor, já que cheguei até aqui. Ás vezes, num fim de tarde começo a achar que tudo não passa de uma confusão na minha cabeça, criada por mim mesma. Então, fiz uma lista das dez coisas que eu fazia, e deixei de fazer. Mais uma lista de dez coisas que eu nunca faria, e dez pessoas na quais deixei de falar. De dez pessoas que estava com saudade, de dez músicas que costumava ouvir sempre. Substituí as coisas que nunca iria fazer, por coisas que ando fazendo agora. Deixei de ouvir as músicas, algumas só me traziam lembranças ruins. Comecei a ouvir músicas que falam de amor, que falam do futuro. Não de amor, com alguém para se relacionar, mas sim o amor com o próximo. O amor amigo. Daí, procurei pessoas que não encontrava mais, os encontrei e ri uma tarde inteira, e vi que saudade não é ruim. Pois sentir sempre saudade não vai deixar você construir o que tem que fazer hoje, no que chamamos de presente. No futuro também sentiremos falta de algumas coisas que fazemos hoje, no caso, uma ligação que recebemos, e iremos pensar – Cara deveria ter marcado um encontro, e dito tudo que precisava ser falado. Futuramente, vamos sentir saudade até dessas tardes vazias que chamamos de tédio. Talvez estejamos ocupados demais para nos preocupar com coisas que hoje lamentamos tanto. Lembra, que ás vezes você pensa que quer ser uma pessoa perfeita para seu filho? Pois é, vão existir e acontecer coisas que você nunca imaginaria, e você vai brigar, vai chorar, e vai sentir, assim como sua mãe também sentiu. Vai entender que é “Impossível viver só sorrindo” E que coisas boas são as simples, e que você deveria ter dado razão aos seus pais. No fundo, eles sempre estão certos. Vai chegar um dia, em que você vai pensar, eu poderia ter feito algo mais por aquela pessoa. E que não devemos trocar as coisas, que sempre devemos amar uns aos outros, pois só colhemos o que plantamos. Que amor, carinho e afeto de mãe, só ela vai poder ter. Porque não há amigo que nos agüente por tantos anos, todos os dias, 24 horas. Não há namorada (o) que queira lavar nossas roupas, nem muito menos dizer – Você não vai nessa festa. Você não merece se misturar com pessoas tão fúteis. Carinho e amor, só sua família vai ter. Basta saber compreender, e fazer por onde ser uma pessoa melhor. Sabendo, que não são todos os dias que vai conseguir cumprir essa meta, pois se não existissem dias ruins. Os dias bons não seriam tão bons.  Portanto, quando se tem menos, se valoriza mais. Quando vim perceber, coisas que antes não entendia, pude acreditar que mesmo com os baques da vida, tão melhor agradecer pelas coisas que temos e que ainda iremos ter. Se olharmos ao nosso redor, iremos ver coisas piores. Pessoas que morrem na guerra, que morrem de fome, pessoas que já crescem em orfanatos, e temos tanto para agradecer. Ás vezes não o bastante. Mas sim o suficiente, pra não deixar de lado as coisas mais bonitas da vida. (15/07/2010)

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